Já assisti tantas ficções científicas que tenho começado a achar que vivemos em uma. Estamos sendo controlados por computadores, inteligências artificiais, big data, câmeras e celulares que viraram parte do nosso corpo. E isso tem tido um efeito em nós, seres humanos.

Temos aprendido com os computadores a enxergar a vida de maneira binária. 1 ou 0. Colocamos pessoas em categorias e as dividimos. Essa pessoa é de direita, essa outra pessoa é de esquerda. Essa uma enxerga o preto, essa outra enxerga o branco. E o efeito disso é separação. O efeito disso é uma visão cada vez mais estreita das imensas oportunidades que estão a nossa frente. Eu proponho então trocarmos a binariedade da vida computacional pela nuance dos sentimentos.

Me lembro de uma aula na faculdade chamada Cor e Design. Um dos exercícios que o professor nos deu foi colocar 20 tons diferentes entre o branco e o preto. Para mim foi extremamente difícil enxergar os diferentes tons e fazê-los diferentes uns dos outros. Lembro que o professor me deu uma nota mínima para passar, porque realmente não era o meu forte enxergar essas nuances.

E será que não temos essa mesma dificuldade nas decisões do dia a dia? Será que não precisamos estar mais cientes dessas nuances ao nosso redor? É muito fácil passar pela vida categorizando, dividindo em dois, enxergando um mundo em duas cores quando temos a oportunidade de poder enxergar não só em preto e branco mas com todas as cores que temos disponíveis.

"Será que não precisamos estar mais cientes dessas nuances ao nosso redor?"

Na minha vida essa escolha ficou clara na decisão que tomamos de trocar a facilidade de um emprego pela incerteza do empreendedorismo. Tanto eu quanto minha esposa estávamos muito bem financeiramente, vivendo em São Paulo e trabalhando para grandes corporações. Mas algo dentro de mim e dela nos dizia que existia alguma nuance faltando. Vivíamos uma guerra interna entre nosso real propósito e a certeza do sustento mensal garantido. Foi aqui que colocamos algumas nuances na conta: nosso tempo em família, o desgaste mental da pressão corporativa, a educação da minha filha. Quando coloquei tudo isso na balança uma nova cor surgiu. Uma nova maneira de enxergar o mundo, dos meus objetivos, daquilo que realmente queria apareceu. Troquei a certeza da guerra pela incerteza da paz. Troquei uma segurança que havia se tornado uma escravidão por dinheiro pela incerteza do empreendedorismo combinado com a paz de saber que estou seguindo meu propósito.

E você, o que tem escolhido viver? O que tem escolhido não viver? Tem preferido o sossego de uma vida sem risco ou escolhe a paz do que está por vir, do que ainda não se concretizou? São perguntas bem difíceis, mas somos seres muito complexos. Seres humanos cheios de nuances e belezas escondidas pela dualidade de um mundo possuído pela mentalidade binária.

Quando tiver uma escolha para fazer, que você consiga enxergar as várias e diferentes nuances dessa decisão. Que você consiga enxergar que talvez a porta mais estreita, o caminho mais árduo pode ser na verdade o mais prazeroso. Pode ser o que vai te fazer uma pessoa melhor, o que vai te fazer crescer. Que aprendamos a escolher e enxergar as incertezas que nos trazem paz.