Quem vai ficar?
Não é segredo que nossa cidade conta com uma excelente infraestrutura acadêmica nas áreas de TI Tecnologia da Informação, cursos bem avaliados, e diversas opções de graduação e pós graduação, em instituições de ensino públicas e privadas.
Também temos muitas empresas de base tecnológica que prestam serviços para todo o Brasil, e excelência na produção de software, que absorve boa parte de nossa ´produção acadêmica´.
O poder público tem feito sua parte, inobstante suas limitações legais e orçamentárias. Temos uma boa cultura de inovação pública, legislação relevante e um equipamento público atuante que chama atenção de outras cidades, premiado internacionalmente, a Fundação Inova Prudente.
A Inova, como gostamos de chama-la, tem contribuído não só com o aumento na maturidade da cultura empreendedora da cidade, mas também com oferecimento de dezenas de eventos e programas que fomentam e capacitam empreendedores e amplia o networking, criando e permitindo o encontro de oportunidades. Faz bem o papel que o Estado deve fazer: de articulação juntamente com demais ´players´ e promoção dos talentos locais, e nunca de titular ou beneficiário direto disso. O ganho do Estado é a consequência; o fim é o Interesse Público, bem estar e desenvolvimento da sociedade.
Apesar disso, boa parte de nossos talentosos egressos ainda se vê obrigada a migrar para grandes centros, em busca de melhores oportunidades de trabalho e renda, principalmente em grandes empresas tradicionais e empresas de tecnologia, carentes por mão de obra qualificada para atender uma demanda crescente de profissionais. Isso aleija nosso potencial de desenvolvimento e diminui a competitividade regional, prejudica as empresas locais e o crescimento de nosso mercado interno.
A retenção destes talentos e a inversão deste ciclo migratório não é tarefa fácil, e exige o comprometimento de toda sociedade e do poder público num trabalho coletivo na mesma direção. O papel da Inova é fundamental mas nunca suficiente; bom lembrar também que está no cenário há apenas 3 anos!
Algumas cidades fizeram isso nos últimos anos, outras ´patinam´ tentando: certamente serão atropeladas mais cedo ou mais tarde, perdendo o ´bonde´. Marilia e Londrina, por exemplo, tem pouca produção de especialistas em tecnologia (se comparada com nossa cidade, proporcionalmente) e possuem déficit destes profissionais. Resultado? Vem beber aqui, em nossa fonte de talentos. Marilia também ostenta importante polo de desenvolvimento de tecnologia regional e um setor bem articulado, que trabalha de forma sinérgica e coletiva, que resulta em importante crescimento do setor.
Evidente que todos os ecossistemas tem em seus componentes, suas particularidades, interesses e até conflitos. Mas é o ´ir além´ do limite ético destes interesses é que gera os conflitos que destroem as conquistas, impedem a evolução e determinam a velocidade do desenvolvimento de um cluster regional. São os esforços e cooperação de seus principais atores que alavanca, ou não, os negócios. O foco em objetivos comuns e o convívio assertivo e ético são elementos que podem definir a velocidade deste desenvolvimento, e ela pode ser negativa, fazendo todo o conjunto regredir.
Na prática, isso quer dizer que um ecossistema em excesso de conflitos, onde atores importantes não colaboram, ou ainda quando alguns elementos empregam seus esforços na direção contrária, atrapalhando ações pelo simples fato de não concordarem com elas, ou para impedir a abertura do mercado local podem encalhar o desenvolvimento locorregional. A médio e longo prazo todos perdem, inclusive quem se acha dono do aquário, sabotando o grupo na tentativa de impedir que todos pulem fora.
Numa sociedade econômica saudável, é imprescindível que cada um entenda seu papel e aceite o papel dos demais, cooperando quando possível. Agir sempre na defesa de seus interesses, claro, mas nos limites do coletivo, onde todos se incluem.
Um ecossistema que decide ser aquário, isolando-se dos demais e impedindo sua expansão em nome da proteção e segurança de seu pequeno grupo, em pouco tempo sucumbe pela falta de oxigênio, e um dia todos morrem. É justamente a abertura, o crescimento orgânico (natural até), o bem comum e a pluralidade de ideais e iniciativas que maturam este nicho que pertence a todos.