Antes de chegar ao PIX

Um pouco de história e o lucro dos bancos com serviços
Antes de chegar ao PIX

imagem da internet

O objetivo desse primeiro texto sobre o PIX, é lançar algumas reflexões históricas sobre as mudanças que ocorreram ao longo das últimas décadas no mercado bancário nacional, que de um ou outro modo acabaram impactando a vida das pessoas e empresas. Pretendo, durante as próximas semanas publicar novos textos relacionados ao PIX, abordando outros tópicos para lançar luz sobre um assunto que geralmente as pessoas não param para refletir sobre como estão sendo impactadas no dia a dia, bem como ressaltar a importância do avanço tecnológico ao permitir quebrar barreiras que geralmente são criadas para gerar dinheiro para poucos e grandes grupos.

Quando voltamos no tempo, entre os anos 80 e 90, os bancos basicamente sobreviviam com base nas concessões de empréstimos, que representavam a sua grande base de receitas. Depois disso tiveram a sacada de que era possível ganhar dinheiro com a prestação de serviços.  Enquanto os empréstimos tinham os seus riscos de não serem pagos, cobrar pelos serviços prestados era uma excelente fonte de receita, pois não havia o risco de inadimplência. Foram criadas as mais variadas taxas e tarifas possíveis e ano após ano, essas receitas de serviços passaram a representar um percentual cada vez maior na composição da receita total dos bancos, ocorrendo situações onde os bancos preferiam captar recursos em investimentos, como poupança e CDBS e oferecer serviços dos mais diversos, do que fomentar a economia do país através de linhas de empréstimos.  

 

Nos dias atuais uma das maiores receitas dos bancos são

os pacotes de serviços, que facilmente podem representar

um custo anual acima de 50% de um salário mínimo

para uma Pessoa Física.

 

Lançado em 16 de novembro de 2020 e anunciado como um mecanismo revolucionário para o setor financeiro, na verdade o PIX é uma evolução de um processo tecnológico que ficou quase 2 décadas estagnado. A última grande mudança ocorreu lá nos idos do ano de 2002, quando foi criado pelo Bacen o Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), com a integração de sistemas entre instituições financeiras que permitiram a criação das transferências via TED e DOC.  Foi realmente um enorme avanço para a época, mas depois disso a coisa ficou em “stand-by”, pois não era interessante ao sistema financeiro mexer nesse modelo, pois as receitas geradas com as tarifas cobradas era algo que encantava os banqueiros. E os lucros só aumentavam, pois os avanços tecnológicos permitiram uma drástica redução de custos com processamento, permitindo uma forte redução no quadro de funcionários, o que tornava tudo um mar de águas límpidas. Lembro bem disso, pois fui bancário por mais de 25 anos e até meta de TED e DOC tínhamos que negociar com os clientes, pois era receita limpa no balanço do banco. Da mesma forma, tínhamos meta de venda de cartões de débito e crédito, de credenciamento de maquininhas de cartões e assim por diante. A remuneração variável era e ainda continua nos dias atuais atrelada ao cumprimento desse tipo de metas na maioria dos bancos.  

 

Você já parou para somar todos os valores que paga em

tarifas, taxas e juros ao longo de um ano.

Se fizer a conferência, a possibilidade de tomar um susto é grande.

 

Entretanto o avanço da tecnologia sobre o setor bancário, principalmente com o surgimento de inúmeras fintechs que passaram a oferecer alternativas cada vez mais interessantes e baratas aos consumidores, passaram a incomodar os grandes bancos. As quedas nas taxas de intermediação nas vendas nos cartões de crédito e débito é algo que talvez melhor exemplifique essa queda de braço, que por sinal é uma outra grande receita dos bancos, obtidas através de suas administradoras. Passaram a surgir ofertas de cartões de crédito sem custo para o consumidor final e as taxas cobradas dos comerciantes nas vendas por cartão, que no crédito facilmente batiam acima de 4,5%a.m. e no débito acima de 3%a.m., começaram a cair drasticamente com a atuação cada vez mais forte das fintechs neste mercado. Mas essa queda foi compensada ao longo do tempo, com a inserção de um número cada vez maior de consumidores finais utilizando cartões, bem como uma crescente no volume de vendas com essa modalidade de pagamento sendo cada vez mais aceita pelo comércio em geral.

 

O empresário deveria saber exatamente quanto paga

 de taxa sobre as vendas no cartão e buscar alternativas!

Do contrário seu lucro pode estar indo pelo ralo.

 

Estimativas divulgadas pela consultoria alemã Roland Berger, projetam uma perda de receitas que pode atingir R$13 bilhões ao ano para as operadoras de cartões, face a implementação do PIX.  Afinal de contas, por qual motivo vou usar um cartão de débito, se tudo é tão mais fácil utilizando um QR Code para pagar com PIX por meio do meu celular?  Há ainda a questão das prováveis quedas de receitas com maquininhas de cartões, o fim dos boletos de cobrança e novas opções de compra no crédito sem a utilização de cartões físicos. E como os bancos irão compensar essas perdas? As apostas estão abertas.  

Mas isso é assunto para os próximos artigos!  Espero que tenham gostado.

Aproveite e deixe sua opinião, nas minhas redes sociais. Fique à vontade também para fazer perguntas.

Se preferir, entre em contato pelo e-mail: [email protected]  

 

Wilson Kunze

Publicado por: Wilson L. Kunze
Sócio na Certus Planejamento e na Startup KNZ Sistemas, Empreendedor, Administrador, Consultor Empresarial e de Seguros, Prof. e apaixonado por temas ligados à educação, tecnologia e empreendedorismo.